X11 não está morto

O recente fork do Xserver do projeto X.Org, chamado XLibre, reacendeu o debate sobre se o Xserver estaria morto. Os desenvolvedores do fork argumentam, com razão, que há pouco interesse dos atuais mantenedores no Xserver, tratado abertamente como obsoleto. O código está em modo de manutenção mínima, com foco em atualizações de segurança e correções ocasionais de bugs graves, enquanto outros problemas e solicitações de mesclagem se acumulam.

Um desenvolvedor que buscava impulsionar o Xserver introduziu inúmeras mudanças que quebravam API e ABI, algo inaceitável sem clara necessidade ou coordenação, já que drivers precisam ser ajustados e recompilados — e muitos deles, vale notar, também estão sem manutenção ativa. Várias alterações foram aceitas, mas muitas foram revertidas após usuários abrirem relatórios de bugs. A cada lote de mudanças, surgiam novos bugs relatando quebra de funcionalidades. O último veio de um programador da Nvidia, que reportou que o driver proprietário não funcionava mais. Enquanto a quebradeira acontecia, os mantenedores pararam de confiar no trabalho e não aceitaram mais nada do desenvolvedor. Resultou num esforço considerável para identificar o que havia sido quebrado.

Frustrados, os mantenedores do X.Org baniram o desenvolvedor do projeto, o que levou à criação do fork. A dúvida é se o XLibre terá competência técnica para prosperar. Apesar da incerteza, um servidor X com desenvolvimento ativo é útil fora do ecossistema Linux.

No Linux, o protocolo Wayland foi criado para superar as limitações do design do X11. Inicialmente, carecia de recursos, mas, com o tempo, suas extensões supriram as lacunas. Hoje, os principais compositores, que falam diretamente com os drivers DRM do kernel, sem intermediários, tornaram-se relativamente completos, permitindo uma experiência exclusivamente Wayland. Diante disso, o Xserver está morto? No Linux, acho que sim.

No entanto, muitos programas, incluindo softwares proprietários, projetos open source menos ativos e aplicações antigas, dependem do protocolo X11. Para garantir a compatibilidade dentro de compositores Wayland, existe o Xwayland, um servidor X modificado que compartilha boa parte do código com o Xserver e tem manutenção ativa. Ele atua como ponte entre esses programas e o compositor Wayland. Embora o servidor X tradicional, seja qual for, esteja fadado a um papel secundário no Linux — com o GNOME planejando remover seu suporte na versão 50 e o KDE dando o primeiro passo para fazer o mesmo num futuro mais distante —, ficando relegado a ambientes desktop de nicho, o Xwayland será mantido por muitos anos para suportar aplicações legadas. Assim, o protocolo X11 está longe da morte.

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